sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Antítese



Quanto mais gritam sobre o ódio, mais entendemos sobre o amor


Quando caminhei pelo sertão até encontrar um campo florido



Quando criança eu sonhava que saía da minha casa e caminhava até parar num campo florido. É como se o mundo não tivesse fim, nem eira e nem beira. Eu sabia criar e, na qualidade de filha única, brincava sozinha. Gostava de inventar personagens e existem fotos pela casa para comprovar isso. Fui uma cigana chamada La violetera, inspirada pelo nome do pote de azeitonas; com um tecido azul fui uma deusa grega e uma atriz ganhadora do Oscar; já fui senhora idosa e agente secreta. Nesses tempos eu não conhecia o mundo, e como não podia sair de casa, deixava-me transportar pelos sonhos, livros e fantasias.
Cresci, esqueci as personagens, encantei-me por sonhos diferentes e em lugar dos campos floridos, passei a sonhar com praias noturnas e a enveredar pelos sertões de mim e do mundo. Enxergo o grito dos animais, as dores dos continentes, as alegorias das estrelas e busco entender o caráter dos corações. Viver sem máscaras dá trabalho e eu só invento para sonhar.
Até que conheci Celly, sei lá. Ela me disse para imaginar e não ter medo. Estão aqui os sertões de mim e os campos floridos da infância. No paralelo do mundo, no que ronda por aí, eu me calo por aqui... Só que na criação não tenho como me calar, a voz de mulher ecoa na aridez do mundo, porque todo ser humano precisa gritar. Quatro palavras anunciam o deserto que por aí vem. Agora o saco cheio de ar pesa sobre as minhas costas e ando com dificuldade, a insustentável leveza do ar. Há tanto que pensar, porém, estou de saco cheio.
Trocada a canção, vejo o caminho diferente. É que depois do deserto algo há de florir. O objeto agora guardado em minha blusa simboliza a gravidez de uma coisa boa, nasce pela gola, como se viesse do coração e repousa em meus braços. Sou mãe. Caminho, brinco de ciranda e ao final encontro um campo florido, onde posso sentar ao lado do meu filho imaginado e apontar para um lugar feliz.
Ao imaginar uma personagem silenciada, é preciso fazer uma força descomunal para o grito. Não há como não pensar no silêncio e eu entendo o mal estar de quem me assiste. É com essa paisagem mental que transformo energias e todos os dias o coração cria coisas diferentes. Mesmo caminhando por sertões, eu ainda sonho com campos floridos.

sábado, 13 de outubro de 2018

A cor do caráter




Revelou-se no coração
A cor do sangue, do caráter
E da palpitação
Lágrimas apagarão o incêndio
O eco da vida nasce no silêncio
Mar revolto
Ensina sobre calmaria
É preciso abraçar o amor
Para ver nascer
Mais uma vez, a luz do dia

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Da noite e do brilho



Sexta-feira à noite,
Paro para assistir ao céu
Penso estar vendo um disco voador
Observo o brilho por seguidos minutos
De repente todas as estrelas
Parecem discos voadores também