domingo, 8 de janeiro de 2017

O amor e o velho barqueiro


Chegando, finalmente, à margem do grande rio, o Amor avistou três barqueiros que estavam indolentes, recostados às pedras.
Dirigiu-se ao primeiro:
- Queres, meu bom amigo, levar-me para a outra margem do rio?
Respondeu o interpelado, com voz triste, cheio de angústia:
- Não posso, menino!
É impossível para mim!
O Amor recorreu, então, ao segundo barqueiro, que se divertia em atirar pedrinhas ao seio tumultuoso da correnteza.
- Não. Não posso.
Respondeu secamente.
O terceiro e último barqueiro, que parecia o mais velho, não esperou que o Amor viesse pedir-lhe auxílio. Levantou-se tranqüilo, e, estendendo-lhe bondoso a larga mão forte, disse-lhe:
- Vem comigo, menino!
Levo-te sem demora para o outro lado.
Em meio da travessia, notando o Amor, a segurança com que o velho barqueiro navegava, perguntou-lhe:
- Quem és tu?
Quem são aqueles dois que se recusaram a atender ao meu pedido?
- Menino - respondeu paciente o bom remador, o primeiro é o Sofrimento.
O segundo é o Desprezo.
Bem sabes que o Sofrimento e o Desprezo não fazem passar o Amor.
- E tu, quem és, afinal?
 - Eu sou o Tempo, meu filho - atalhou o velho barqueiro.
- Aprende para sempre a generosa verdade.
Só o Tempo é que faz passar o Amor!
E continuou a remar, numa cadência certa, como se o movimento de seus braços possantes fosse regulado por um pêndulo invisível e eterno.
Sofrimento, Desprezo...
Que importa tudo isso ao coração apaixonado?
"O Tempo, e só o Tempo, é que faz passar o Amor."

Malba Tahan