sábado, 18 de março de 2017

Atravessar a rua



É preciso que se atravesse a calçada para se deparar com outro universo. Talvez assim o mundo desapareça e com ele as suas mazelas. Os únicos registros que existirão serão os Akáshicos. Esqueceremos a internet e a loucura que a habita. Fotos, cartas, recordações, tudo isso evaporará junto ao éter.
Estaremos todos imersos no cosmos, perdidos, estagnados na solidão dos astros e que assim seja até que nossa humanidade se reestabeleça. Os olhares mortais dos psicopatas, as cadeias infernais, a carne que alimenta nossos vícios, os animais indefesos e abatidos, as injustiças, as loucuras, a ganância que mata, a loucura que despreza as mulheres, o mundo imundo que foi construído. Tudo isso sumirá.
Basta que a ponta do dedão de pé toque a rua. Um toque e o mundo sumirá. O mundo das perversões e dores, o mundo dos sofrimentos. No auge da minha angústia eu só enxergo os absurdos que me rodeiam, as coisas abomináveis e inomináveis. Basta também um toque e o pior do mundo vem aos meus olhos. Na televisão um filme de terror é narrado com complacência e tranquilidade.
Nascemos e aqui estamos. Fazendo o que de nossos corpos? Aliciando ou deixando-nos aliciar pelos vícios? Escolhemos comer a carne do outro e sorrimos para isso. Pobres são os nossos pequenos companheiros de planeta que sofrem apenas por estarem aqui, em nossa companhia, ou, pobres somos nós? Monstros miseráveis que somos. Esse ser que encaramos no espelho pensa ou padece? Pensa ou faz padecer? 
Ouvi gritos e louvores, vi imagens que gostaria de apagar da memória. No entanto, apenas observei. Foi então que percebi: bastava atravessar a rua e tudo sumiria. No meu caminho de formiga solitária bastaria um passo e o mundo sairia do lugar. 


sexta-feira, 17 de março de 2017

Louco por você, Caê




Tudo o que ressalta quer me ver chorar
Louco por você
Nada esquece de armar uma lágrima
Que às vezes vem bater
Na cara... Onda do mar... Até gritar de... Felicidade
Tarde cinza, lágrima prismática
Louco por você
Cor multiplicada, som, palavra má
Porque não sei dizer
Saiba... Diga você... Agora é tarde... Felicidade (vem)

-Caetano Veloso