É preciso que
se atravesse a calçada para se deparar com outro universo. Talvez assim o mundo
desapareça e com ele as suas mazelas. Os únicos registros que existirão serão
os Akáshicos. Esqueceremos a internet e a loucura que a habita. Fotos, cartas,
recordações, tudo isso evaporará junto ao éter.
Estaremos
todos imersos no cosmos, perdidos, estagnados na solidão dos astros e que assim
seja até que nossa humanidade se reestabeleça. Os olhares mortais dos psicopatas,
as cadeias infernais, a carne que alimenta nossos vícios, os animais indefesos
e abatidos, as injustiças, as loucuras, a ganância que mata, a loucura que
despreza as mulheres, o mundo imundo que foi construído. Tudo isso sumirá.
Basta que a ponta
do dedão de pé toque a rua. Um toque e o mundo sumirá. O mundo das perversões e
dores, o mundo dos sofrimentos. No auge da minha angústia eu só enxergo os
absurdos que me rodeiam, as coisas abomináveis e inomináveis. Basta também um
toque e o pior do mundo vem aos meus olhos. Na televisão um filme de terror
é narrado com complacência e tranquilidade.
Nascemos e
aqui estamos. Fazendo o que de nossos corpos? Aliciando ou deixando-nos aliciar
pelos vícios? Escolhemos comer a carne do outro e sorrimos para isso. Pobres
são os nossos pequenos companheiros de planeta que sofrem apenas por estarem
aqui, em nossa companhia, ou, pobres somos nós? Monstros miseráveis que somos.
Esse ser que encaramos no espelho pensa ou padece? Pensa ou faz padecer?
Ouvi gritos
e louvores, vi imagens que gostaria de apagar da memória. No entanto, apenas observei. Foi então que percebi:
bastava atravessar a rua e tudo sumiria. No meu caminho de formiga solitária
bastaria um passo e o mundo sairia do lugar.
