terça-feira, 15 de maio de 2018

Milágrima



Em caso de dor ponha gelo, mude o corte de cabelo, mude como modelo, vá ao cinema, dê um sorriso, ainda que amarelo, esqueça seu cotovelo. Se amargo for já ter sido, troque já esse vestido. Troque o padrão do tecido, saia do sério, deixe os critérios, siga todos os sentidos. Faça fazer sentido. A cada mil lágrimas sai um milagre.
Caso de tristeza vire a mesa, coma só a sobremesa, coma somente a cereja. Jogue para cima, faça cena, cante as rimas de um poema, sofra penas, viva apenas sendo só fissura ou loucura. Quem sabe casando cura, ninguém sabe o que procura. Faça uma novena, reze um terço, caia fora do contexto, invente o seu endereço. A cada mil lágrimas sai um milagre.
Mas se apesar de banal, chorar for inevitável, sinta o gosto do sal, do sal, do sal. Sinta o gosto do sal. Gota a gota, uma a uma. Duas, três, dez, cem mil lágrimas, sinta o milagre. A cada mil lágrimas sai um milagre.
Cante as rimas de um poema, sofra penas, viva apenas, sendo só fissura ou loucura. Quem sabe casando cura, ninguém sabe o que procura. Faça uma novena, reze um terço, caia fora do contexto, invente seu endereço. A cada mil lágrimas sai um milagre.

-Itamar Assumpção e Alice Ruiz