segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Insígnia

 



Sou de Letras porque consumo
Não somente a lógica que me define
De signo a enigma
Materializo o que significo em palavra
O alfabeto, a minha arma
No mundo de máquinas e tergiversações
No limiar da teoria
Incógnita, pragmática e estruturalista
No fundo do texto
Alguma vida
Em que eu possa reinar


segunda-feira, 21 de setembro de 2020

As telhas do castelo

 





De sonho a sonho
Para viver junto
Na asa de um mosquito
Na noia da madrugada
No pé do umbigo


Tremendo na corda do violão
Alguma coisa de letra
Livros espalhados pela casa
As previsões de uma charlatã
Infidelidades, os moveres da cama
Desesperanças dos humores
Fins de certeza

 

A vida no Castelo
Um cachorrinho magrelo
O bebê chorando no berço
As contas estagnando o pescoço
O bom uso da palavra aperreio

 

Sem aliança nem festa
Só o juntar dos panos
A chuva rala pingando da telha
Lagartixa no quintal
Manga que não cai da mangueira

 

Domingo de shopping, filme, Sai de Baixo
Menina do dente torto
Mulher cansada do trabalho
“Painho, me ensina a estacionar o carro”


Painho foi embora
Sobraram filha, mãe
E cachorrinho magrelo
A menina do dente torto
Sonhando no Castelo


Areia sem cal

 



Eu não sou essa rua
E nem metade daquela casa
Nada há de se construir
Se a coisa for concebida assim
Não foi dobrando a esquina 
Que encontrei por acaso
As respostas e as letras luminosas
Que em mim querem aparecer
Noite em que vi o meu espetáculo
Invadindo o cartaz alheio
Sendo areia sem cal
Machucando as promessas do existir
Jogando fora o meu sal


A cor do nome

 


Rútilo, o vinho
Escorrendo
No chão do corpo
Até inundar
O coração turquesa
Muralha desfeita
Pela chuva bordô
De desejo grená
Que veste insolente
Da coisa mais bruta
O tesão fúcsia
No teu olho âmbar