sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Queimadura no prato



Quero o meu prato sem berro
Sem elo com sangue
Sem a teta desmamada, inflamada
Bicho sem couro
Casaco, pele e dor
Abracei uma galinha
Feliz de quem come capim
Já disse, quero um prato simples
Sem queimadura de onça,
Pedaço de Amazônia
Sofrimento do Pantanal
Chão seco, carvão e ozônio
Peste, pandemia, mar-plástico
Gosto de petróleo
Na barriga da tartaruga
Aquela coisa que me machuca
Aperta do pescoço do albatroz
Tem festa domingo, eles riem
Enquanto o globo terrestre gira
Nos olhos de um animal
A caminho do matadouro
E o plástico no pescoço do albatroz


quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Cristal amanhecido

 



Depois do sono 
Lágrimas que deixaram de correr 
Repousam no canto dos olhos 
Dos gatos, dos cachorros, 
De quem acorda 
Cristais amanhecidos 
Às vezes amolecidos 
Peças do corpo vivo 
Transcrições biológicas de toda espécie


domingo, 11 de outubro de 2020

Homenagem


Obstinação abobada de ser reencarnação
Pontuar o sábado como a rosa da semana
Mastigar o mundo com os olhos verdes e secretos  
Desmascarar as raízes escuras da alma
Renascer como um pedaço de Deus
E debulhar uma oração em cada página


 

domingo, 4 de outubro de 2020

Baião 4 por 10

 



Tá.tá   Tá

Toque Tresillo
Célula sul-americana
Mulher paraibana
Baião do meu signo
Compasso inventado
4 por 10, coração outubrino
Tem nordeste no meu pulso
Pulsa forró no meu ritmo

Tá.tá   Tá


quinta-feira, 1 de outubro de 2020