sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Jardim da fantasia



Bem te vi, bem te vi
Andar por um jardim em flor
Chamando os bichos de amor
Tua boca pingava mel
Bem te quis, bem te quis
E ainda quero muito mais
Maior que a imensidão da paz
E bem maior que o sol
Onde estás?
Voei por este céu azul
Andei estradas do além
Onde estará meu bem?
Onde estás?
Nas nuvens ou na insensatez
Me beije só mais uma vez
Depois volte pra lá

-Paulinho Pedra Azul


terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Vai acontecer





Vai acontecer
Tantos ciclos, tantas vidas, tantas circunstâncias
De chorar, de sorrir, de gozar, de morrer e de existir
De mudar o cabelo, a casa, a roupa
Vai acontecer
De se isolar, de amadurecer, de errar e de partir
Vai acontecer tudo o que já aconteceu
De dizer mil vezes
Que depois de tudo isso, se pariu um novo eu

sábado, 8 de dezembro de 2018

Abraços de sereia




Catei flores brancas na esquina, vesti uma camisa verde-água e uma calça bem folgada. Sei que andei por aí meio esquisita, mas assim que é bom: esquisita e descabelada. Fui para onde a minha alma pode ser acolhida e esperei. As flores murcharam com a alfazema, mas não tem problema, Iemanjá entende meu coração e eu ganhei outras flores. As pessoas cantavam e soltavam fogos. Anoiteceu e eu ali, rezando para o mar me ouvir e minhas flores não agredirem a natureza.
Andei pela beira do mar bem devagar enquanto me perguntava quem habitava a escuridão que se via adiante. A noite me preenche. Vejo gente sozinha, casais, famílias, frascos de perfume, restos de isopor e flores brancas murchas pelo caminho. Joguei o isopor no lixo. Iemanjá vai ter muita gente para ouvir, será que meu coração-água irá dissolver-se até chegar a algum lugar místico?
Sento na areia e ninguém no mundo sabe do meu paradeiro. É um quase sumir, é saber-se desimportante para a humanidade, é entregar-se à realidade. Sou só uma pessoa desengonçada nessa praia pensando sobre a existência, carregando algumas coisas na bolsa, que se fosse levada, me tiraria do eixo, porque não lembro de nenhum telefone importante e eu seria quase como uma criança perdida sem ter como voltar para casa.
Abraços de sereia e eu quietinha na praia. A multidão celebra e eu passo por ela transparente enquanto carrego meus passos de liberdade e agradeço pelo dia oito de dezembro e pela força que mora no meu corpo ausente.





domingo, 2 de dezembro de 2018

Feitiço



A ilusão do artificial foi embora junto com lágrimas, canções, alianças e sonhos. Não mais me exaspera o futuro com suas insanas surpresas e alegorias. Os anéis atirados pela janela ou ao mar agradecem a liberdade e a banalização do que um dia já foi sagrado. A existência de imagens já não interfere na minha memória do mesmo modo que as lembranças em meu quarto tornaram-se bonitos enfeites. Uma leveza memorável pesa sobre tudo o que foi guardado ou não.
Ao lado de outro ser humano nenhuma declaração de amor permanece, porque a minha calma ainda não aprendeu a lidar com a areia movediça dos terrenos alheios. Acordei de um longo feitiço, troquei as lentes da vida e planejo mudar a cor dos cabelos.
Dia desses, num almoço solitário, eu engolia minhas quase-lágrimas com purê enquanto tocava uma música brega no telão da praça de alimentação. As lembranças me corroíam sem nenhum pudor, mas foi bom. Foi eficiente para que minhas pálpebras parassem de remoer o sal.
É pretensioso dizer que daqui nasceu um novo projeto de mim, mas é honesto mudar radicalmente as páginas do diário e escrever poemas de amor para uma moça parecida comigo. As madrugadas insones agora dormem cedo e qualquer sentimento que exista aqui dentro já não tem o mesmo nome.