domingo, 25 de outubro de 2015

A minha ladeira da saudade - III



No dia seguinte acordei com uma mensagem dele pedindo para que eu o encontrasse. Lá ele me deu uma florzinha e um lembrancinha de Minas. Expliquei a ele que iria embora no dia seguinte, vi uma certa tristeza nos olhos dele, mas não comentei nada. Ele me chamou para conhecer a cidade e me mostrou lugares que os guias não mostram. Foi lindo. Nos beijávamos sempre, sorríamos, compartilhávamos lembranças. Eu sentia sinceridade nele e era isso que me deixava confortável. No final da tarde ele me chamou para conhecer a sua casa. Travei.
-Felipe, eu tenho medo.... Você sabe como eu sou. Você sabe o que significa ir à sua casa. Não te conheço direito, mas...
-Júlia, por favor, me desculpe. Não quero que você se sinta mal. Desculpe, por favor.  Realmente achei que seria interessante, mas não tem problema algum você não querer ir, podemos jantar aqui perto.
-Tudo bem Felipe, eu vou. Mas fique ciente de suas atitudes. Vou avisar aos meus amigos para onde estou indo, não quero me sentir acuada. Quero apenas um lugar onde eu possa descansar com tranquilidade.
Felipe morava numa casinha antiga, de estilo colonial, com mais três amigos. O piso era de madeira e cada quarto tinha uma varandinha. O quarto dele dava para a rua e a vista era linda. Ele preparou nosso jantar e ficamos sentados no chão da sala conversando. Abajur ligado, Elis na vitrola e eu com medo. Felipe estava quieto, me respeitava e nem me beijou. Depois do jantar nos aconchegamos no sofá. Eu expliquei a ele o quanto queria tudo o que estava por vir, mas também disse o tamanho do meu receio. Apesar da vontade de aproveitar, eu continuava a mesma. Mesmo que só tivéssemos uma noite, que fosse mágica.
Os beijos à luz de abajur, os abraços fortes, a vontade crescente de ser só dele. O calor de um corpo masculino, coisa que há tempos eu não sentia e nem fazia questão de sentir. O perfume dele... Na vitrola Elis cantava: E quando sinto que teus braços se cruzaram em minhas costas desaparecem as palavras, outros sons enchem o espaço. Você me abraça, a noite passa. Me deixas louca....
Em mim não havia mais medo, só o corpo dele sobre o meu...
 E aqui estou eu, de volta ao lar. Olho o céu pela janela do meu quarto e me lembro do Felipe. Quatro meses já se passaram. Ele me ligou algumas vezes, mas como manter o calor com a frieza que a distância impõe? O tenho nas redes sociais, mas não o acompanho, faço questão de não ver nada e sigo com meu ritmo de vida. Estudos, trabalho e algum show para relaxar.
Até que um dia, no grupo de pesquisa da Universidade, o professor Solano, também Mineiro, me chamou.
-Júlia, quero que você conheça o meu sobrinho. Ele veio de Minas Gerais e fará parte do nosso grupo de estudos.
Qual o nome dele? Felipe.