Em meu coração jovem há tantos caminhos que não consigo percorrer! Por que sou assim tão contraditória? Agora estou triste… agora estou alegre… Aqui estou radiante mas, ali adiante, sou toda lágrimas! Por que não sou sol-amarelo-calor-e-luz? Por que não aprendo a caminhar sem ter destino até o encontro dos braços que me amem? Braços que me aqueçam… braços que tirem de mim todo o sol que tenho para dar ao mundo?
– A Ladeira da Saudade, Ganymédes José
Meu nome é Júlia, por enquanto tenho 25 anos e sou uma mulher
forte. Moro sozinha, sou concursada e graduada em Jornalismo. A minha vida
parece perfeita, sou a mulher que sonhava ser desde os meus 14 anos, o orgulho
da família, aquela coisa clichê e confortável. Essa é a Júlia que apresento ao
mundo, mas a história que pretendo contar acolhe o aspecto sentimental da minha
vida e é aí que as coisas não são tão perfeitas.
Mesmo forte, sou uma pessoa muito sensível, e, sinceramente,
quando o assunto é coração eu digo: já fui magoada diversas vezes. Desde os 20
anos não namoro ninguém. A vida é engraçada, quando mais jovem namorei bastante
e até amei, mas no final meu coração sempre saía quebrado e eu fui aprendendo a
me guardar. Eu sei, sou muito nova, mas é que eu tive uma minicoleção de namorados
e as experiências se acumularam até beirar o cansaço.
Minhas amigas não entendem como eu, namoradeira que fui, tornei-me
uma pessoa tão fria. Eu, euzinha, que sonhava bastante, hoje me orgulho de ter
virado pedra. Essa questão amorosa é um tanto estranha: ao mesmo tempo em que
eu quero aproveitar, não gosto de encontros casuais. É difícil viver com esse
paradoxo, na dúvida, costumo ficar sozinha.
Sinto que tenho uma postura estoica quanto ao amor. Eu não o
rejeito, o que eu rejeito são encontros que só servem para tirar a minha paz.
Sim, a minha tão amada paz. Depois de passar anos namorando eu já não sabia
mais o que era ser eu mesma. Meu último namoro foi tóxico e também foi a
gota d’água. A partir disso que eu decidi me reconstruir, virar todas as
páginas e me procurar. Eu estava disposta a mudar.
O primeiro ano solteira foi o mais difícil, já que eu ainda
pensava muito em relacionamentos. Entenda, eu sou libriana. LI-BRI-A-NA. Esse
signo chato que adora um relacionamento. Já viu uma libriana ficar sozinha? Eu
via sempre que olhava no espelho. No fundo estava cansada de me dar tanto para
assistir ao naufrágio de sucessivas relações. Era simples para alguém virar as
costas pra mim. Ah... isso ia mudar. E mudou.
Aqui estou eu, uma nova Júlia. Como eu disse, sou a mulher que
sempre sonhei ser: solteira (sempre me imaginei assim), tenho meu próprio
apartamento, pago as minhas contas, dirijo meu carro, tomo meu pileque
(mentira, eu não bebo), dispenso muitos homens (poderosa) e viajo para onde quero.
Eis a minha vidinha tão sonhada. Sabe o que acontece? Mesmo com todo esse
discurso eu gosto de imaginar um amor. Talvez um dia um rapaz bacana apareça.
Quando tinha 14 anos, li um livro lindíssimo: A Ladeira da
Saudade. Desde então eu sonho em ir para Minas Gerais. Será que já vivi lá em outras
vidas? Quem sabe? Tudo o que eu queria é andar por aquelas ruas históricas e
viver alguma coisa mágica como no livro. Nessas horas de devaneio esqueço que
sou pedra e volto a ser a menina que passava as noites olhando para o céu e os
dias estudando, desejando voar. O momento certo chegou.
Convenci um dos meus melhores amigos a conhecer Ouro Preto comigo.
Paulo é historiador, geminiano, solteiro convicto e adora aventuras, além de
ter um lado místico que eu também tenho. Temos uma amizade que veio de outras
eras, só pode. Organizamo-nos e fomos pra Minas com outros amigos.

