E se a
humanidade resolvesse apagar todas as luzes para contemplar o céu? E se no fim
acabasse tão encantada e iluminada com esse encontro divino que homem algum
fosse capaz fazer qualquer maldade contra o próximo ou contra si mesmo sob a
luz das estrelas? As pessoas ficariam tão encabuladas com a beleza do céu que
não teriam coragem de desrespeitar algo tão nobre e tão sagrado. Há muita
luz nessa escuridão.
Os verdadeiros
amantes fariam amor debaixo desse véu estrelado e a lua choraria com tamanha
ternura. Não haveria mais novela. Vingança? Não mais. As guerras
cessariam, pelo menos à noite. Só nos hospitais, presídios e manicômios as
luzes continuariam acesas, mas... luzes azuis. A cidade viraria interior, com
gente pondo cadeiras nas calçadas para conversar, contar histórias. Laços
seriam reatados e sorrisos recuperados.
Mulheres não
teriam medo de andar sozinhas, crianças não mais chorariam, ninguém mais teria
medo de alma penada ou de bicho-papão. As estrelas cadentes teimariam em
realizar mais desejos...
Dançaríamos
com shows no meio da rua para saudar os astros. Para que shopping? Para que
cinema? Se agora o melhor filme do mundo passa de graça na maior tela que se pode
supor. Então amanheceria e as pessoas reconheceriam a luz do sol que viram
refletida na lua. E mais uma vez ficariam encantadas...
-"Olhem essas nuvens!"
-"Vejam esse azul! Meus
Deus! Quantos pássaros!"
E o senhor Sol?
-"Energia nuclear para quê?
O sol já existe e já oferece energia demais" Diriam os senhores do
petróleo, das usinas nucleares e do carvão.
-"Energia nuclear, só a do
sol. Nada de bombas" Ditadores e líderes mundiais entrariam num consenso.
Agora que as
pessoas enxergariam melhor, sairiam como formigas dos prédios cinzentos, dos
carros, das casas, das cascas! Sentiriam a luz! Agradeceriam por ela!
Então eu
acordo, consciente da enorme loucura do meu sonho. Num mundo de sistemas e
insanidades, tudo pode ser construído ou destruído com palavras.
Silenciosamente construo, sonhar ainda é de graça.
