domingo, 10 de fevereiro de 2019

A utopia noturna dos dias



E se a humanidade resolvesse apagar todas as luzes para contemplar o céu? E se no fim acabasse tão encantada e iluminada com esse encontro divino que homem algum fosse capaz fazer qualquer maldade contra o próximo ou contra si mesmo sob a luz das estrelas? As pessoas ficariam tão encabuladas com a beleza do céu que não teriam coragem de desrespeitar algo tão nobre e tão sagrado. Há muita luz nessa escuridão.
Os verdadeiros amantes fariam amor debaixo desse véu estrelado e a lua choraria com tamanha ternura.  Não haveria mais novela. Vingança? Não mais. As guerras cessariam, pelo menos à noite. Só nos hospitais, presídios e manicômios as luzes continuariam acesas, mas... luzes azuis. A cidade viraria interior, com gente pondo cadeiras nas calçadas para conversar, contar histórias. Laços seriam reatados e sorrisos recuperados.
Mulheres não teriam medo de andar sozinhas, crianças não mais chorariam, ninguém mais teria medo de alma penada ou de bicho-papão. As estrelas cadentes teimariam em realizar mais desejos...
Dançaríamos com shows no meio da rua para saudar os astros. Para que shopping? Para que cinema? Se agora o melhor filme do mundo passa de graça na maior tela que se pode supor. Então amanheceria e as pessoas reconheceriam a luz do sol que viram refletida na lua. E mais uma vez ficariam encantadas...
-"Olhem essas nuvens!"
-"Vejam esse azul! Meus Deus! Quantos pássaros!"
E o senhor Sol?
-"Energia nuclear para quê? O sol já existe e já oferece energia demais" Diriam os senhores do petróleo, das usinas nucleares e do carvão.
-"Energia nuclear, só a do sol. Nada de bombas" Ditadores e líderes mundiais entrariam num consenso.
Agora que as pessoas enxergariam melhor, sairiam como formigas dos prédios cinzentos, dos carros, das casas, das cascas! Sentiriam a luz! Agradeceriam por ela!
Então eu acordo, consciente da enorme loucura do meu sonho. Num mundo de sistemas e insanidades, tudo pode ser construído ou destruído com palavras. Silenciosamente construo, sonhar ainda é de graça.