Um casal
desses que a gente vê pelas paradas de ônibus, numa moto, num passeio no
shopping, andando pelas ruas do centro da cidade e até na sala de uma
faculdade. Eles moram numa casa simples no Rangel. Foi a casa que puderam
comprar.
A vida sempre
difícil os levou para caminhos distintos daqueles que sonharam. Só o amor dos
dois alivia as desilusões da vida. Sair da casa dos pais para morar juntos foi
a coisa mais audaciosa que fizeram, e a melhor. A vida é difícil e o dinheiro
só é suficiente para as contas primordiais. Querem ter profissões diferentes e
morar em outro bairro. Comprar uma casa bem maior não seria mal. Enquanto isso
não acontece eles sonham e lutam.
A volta do
trabalho é uma das piores partes do dia: ônibus lotado, gente suada e um aperto
infernal. De vez em quando Kayllany olha pela janela e sente inveja dos carros
ao lado. Dane-se o trânsito, bom mesmo é estar sentada dentro de um automóvel e
não nesse aperto. Enquanto isso, Denilson pilota a sua moto e cruza entre os
carros querendo chegar na faculdade na hora.
Depois das
aulas na faculdade, os dois chegam em casa. Cansados, só querem dormir, mas, o
amor não dorme. Apesar das dificuldades, nada supera a felicidade de pôr os pés
em casa depois de um dia exaustivo, mesmo quando o teto é de telha, as paredes
são finas e os móveis são simples. O importante mesmo é ter um lar acolhedor.
Bonito é
quando chove. É possível que as gotas da chuva sejam sentidas mesmo dentro de
casa. São pingos finos e discretos. Nas
madrugadas chuvosas, o corpo de quem se ama parece adquirir novos contornos de
desejo, principalmente debaixo de um lençol quente. O único lugar para se abrigar
é no corpo um do outro. Para eles, não há nada melhor do que dormir aquecidos
num abraço infinito, ainda que sintam os pingos da chuva.
Parece até que
a casa simples deixa as coisas surpreendentemente mais bonitas. Não fossem as
telhas, o abraço não teria tanta graça. Quando amanhece o quarto fica num tom
de azul que não posso explicar. As cores e sensações que moram nessa
simplicidade são únicas.
Já são cinco
da manhã e lá fora está frio. O orvalho pode ser sentido mesmo com a janela
fechada e aí eles precisam despertar. Os pássaros cantam lá fora, mas dentro do
quarto os corpos ainda se procuram. Luz azul, frio, orvalho, amanhecer,
pássaros cantando e o amor sonolento dos casais que se amam. O dia chama, eles
precisam trabalhar. Janela aberta, clima da madrugada e café da manhã. A casa é
simples, mas guarda em si uma magia que só o amor desvenda.
