terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Meu presente de Natal



O meu Natal foi simples, perto de mim não tinha muita gente, mas tinha comida no prato e muito amor no peito. O meu presente foi um momento dado por Francisco, um gatinho siamês inteligente e desapegado, que não gosta de ficar no colo de ninguém. 
Diariamente, estou acostumada a abraços que duram segundos, já que esse é o máximo que ele suporta ficar no colo de alguém. Só que era Natal. Eu o coloquei em meu colo e ele dormiu, dormiu por muito tempo. Tudo que eu podia fazer era aninhá-lo e observá-lo: tão pequeno e tão inocente. Sem perceber eu chorava. Como é possível caber tanto amor dentro de mim? 
Havia um anjinho adormecido no meu colo. Ninguém registrou, mas eu, eu vou lembrar disso sempre. Esse foi o meu melhor presente. Não sei como aconteceu, só sei que nunca mais voltou a acontecer e que era Natal.




Fidelidade

De amor para entender é preciso amar. Preciso me amar antes e jurar fidelidade a mim mesma. Estou sozinha, mas não estou só. Estou comigo e para onde vou, me levo junto. Coração, mente, memórias e aquilo que sou.
Já amei e hoje sinto as costas pesadas de memórias. Enquanto eu arrumava a bagunça da vida em caixas de plástico, encontrei fotos perdidas, diários esquecidos e anotações avulsas: “Purifica o teu coração antes de permitires que o amor entre nele, pois até o mel mais doce azeda num recipiente sujo”. Tantas vezes eu quis fazer o que Pitágoras mandava, mas faltava algum ingrediente e eu nunca ia muito longe.
Então a vida quis puxar os meus tapetes, e eu não poderia ser mais grata. A queda fez de mim alguém diferente e pôs os meus pés no chão, exatamente no lugar em que eu gostaria de estar. As minhas verdades são minhas e as minhas memórias ninguém rouba. Descobri o quanto o meu espaço é sagrado.
Fidelidade é não misturar as emoções. Quem não mente para si não mente para os outros. Tem-se que saber respeitar o tempo do coração, e, se ele pede calma, é calma que darei a ele. Se eu não fizesse isso, certamente, estaria traindo a mim.
Quero viver sem laços, livre como sou. Desejo apenas que a verdade seja o meu guia. Joguei tudo fora e como louca saí pelo mundo. Saber ser sozinho exige coragem. Pus o meu coração em uma caixa sagrada e a ele jurei fidelidade.






segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Maluca


Num dia triste de chuva
Foi minha irmã quem me chamou pra ver
Era um caminhão, era um caminhão
Carregado de botão de rosas
Eu fiquei maluca
Por flor tenho loucura, eu fiquei maluca
Saí
Quando voltei molhada
Com mais de dúzias de botão
Botei botão na sala, na mesa, na TV, no sofá
Na cama, no quarto, no chão, na penteadeira
Na cozinha, na geladeira, na varanda
E na janela era grande o barulho da chuva
Da chuva
Eu fiquei maluca
Eu fiquei maluca


sábado, 28 de novembro de 2015

Nome-canção



 Nome do santo que é celebrado no dia do meu aniversário, nome do meu gato -criatura por mim infinitamente amada-, nome de um grande amigo, nome do filho que um dia eu terei e nome de uma canção. Francisco.


sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Francisco e o vento



Enquanto nos afundamos em estudos e leituras, ele, calmo e sonolento, está deitado sobre a mesa. A pequena cabeça está apoiada em seu bracinho e de vez em quando fazemos algum afago nele. De onde está é possível observar o céu, os pássaros e os coqueiros do outro lado da rua.
Um vento forte entra pela janela, então, ele desperta. Tranquilo, ele levanta a cabeça, fecha os olhinhos, respira mais rápido e sente o vento afagar o seu rosto. Francisco e o vento. É nesse momento que os dois são um só. O gene não nega, os animais foram feitos em comunhão com a natureza. Observo essa conexão e sinto paz. 

Estou andando entre árvores e de repente, o vento passa por mim. Fecho os olhos, respiro, sinto o seu toque em meu rosto e imediatamente noto que repeti os gestos do pequeno Francisco sem perceber. Sorrio e agradeço por ter aprendido uma nova lição com ele.

domingo, 22 de novembro de 2015

Pequeno Francisco



Francisco, nome do santo protetor dos animais, e nome do meu gatinho. Pequeno siamês dos olhinhos azuis, cheio de vida e curiosidade. Ele é amor, todo amor. O que ele trouxe para meu coração não pode ser medido ou explicado. Ternura, carinho, amor, amizade, respeito, pureza. Eu, que já amava os animais, passei a amá-los e respeitá-los ainda mais. Através de Francisco eu pude reconhecer um ponto em comum a todos eles: o brilho inocente nos olhos e uma pureza na alma. Não trazem maldade em si, apenas são o que são, lutam para sobreviver e sentem, tal como nós sentimos. Merecem nosso respeito e nos ensinam o amor. Acredito que sejam anjos. Quando olho para Francisco, enxergo pequenas asas nele.
Lembro de quando foi deixado em minha casa: era pequeno, tinha três meses e junto a ele foram deixados dois potes e uma caixa de areia. Ele estava acostumado a viver com outros gatos e o seu rabinho parecia machucado. Disseram que ele tinha perdido a mãe e passado por um acidente, que até hoje não sei como aconteceu. Era dia 4 de maio de 2015. Ele se escondeu em uma gaveta e passou o dia inteiro lá. Até que o encontramos escondido, tão pequeno e tão assustado. Ele miava pela casa, procurava as antigas companhias, e nós tentávamos acalmá-lo. Até que ele se deitou perto de nós e dormiu.
Os dias passavam e ele explorava o ambiente. Pequeno curioso, menininho danado. Aquariano independente e carinhoso. Dócil, simpático, comunicativo. Aos poucos demonstra confiança em que cuida dele. Sobe em minha cama, deita nos meus pés. Dessa vez não sou eu que mostro a ele o quanto o amo, é ele que demonstra o seu amor. Se estou quieta, ele deita ao meu lado. Se choro, ele me consola: mia, deita perto de mim.
Seus olhinhos são vivos, observam a casa e a rua. Triste fim para as formiguinhas que passam perto dele. Passa as manhãs e as tardes dormindo, quieto, carinhoso. Quando anoitece, corre pela casa, mia, quer brincar. Eu o acompanho, brinco com ele, sorrio com a sua alegria. Isso é vida. É a luz que está dentro dele, que o faz correr, miar, explorar, e levar amor por aí.
Meu pequeno anjo. Os olhos azuis brilham, as orelhinhas mexem com qualquer barulho, o rabinho balança pela casa. Minha alegria é chegar em casa e por ele ser recebida. Poder abraçá-lo e tê-lo sempre perto. Se triste, ou magoado, mia e reclama e eu o entendo. Tão acostumado a sempre receber carinho, que reclama se é chamado atenção. Adora subir na pia, mas detesta banho. Bagunça a casa, arranha os móveis, quebra objetos e apronta por aí. Pequeno obstinado, mira um alvo e pula até ele, mesmo que demore dias para a sua conquista.
Quando deito para dormir, ele sobe em minha cama e quer dormir também. De vez em quando olhamos as estrelas pela janela. Ele adora as mesmas músicas que eu e até dorme com elas.  Estou aqui, e ele está deitado ao meu lado. A cabeça repousa sobre o braço. Calmo, tranquilo, transbordando amor.
Obrigada por existir, obrigada por ser quem é e do jeito que é. Obrigada por estar em minha vida e por ser o meu irmãzinho mais novo. Obrigada Universo, por ter colocado um pequeno anjo em minha vida. Eu olho para ele, digo essas palavras e ele mia, sei que me entende.






domingo, 25 de outubro de 2015

A minha ladeira da saudade




Em meu coração jovem há tantos caminhos que não consigo percorrer! Por que sou assim tão contraditória? Agora estou triste… agora estou alegre… Aqui estou radiante mas, ali adiante, sou toda lágrimas! Por que não sou sol-amarelo-calor-e-luz? Por que não aprendo a caminhar sem ter destino até o encontro dos braços que me amem? Braços que me aqueçam… braços que tirem de mim todo o sol que tenho para dar ao mundo?

– A Ladeira da Saudade, Ganymédes José

Meu nome é Júlia, por enquanto tenho 25 anos e sou uma mulher forte. Moro sozinha, sou concursada e graduada em Jornalismo. A minha vida parece perfeita, sou a mulher que sonhava ser desde os meus 14 anos, o orgulho da família, aquela coisa clichê e confortável. Essa é a Júlia que apresento ao mundo, mas a história que pretendo contar acolhe o aspecto sentimental da minha vida e é aí que as coisas não são tão perfeitas.
Mesmo forte, sou uma pessoa muito sensível, e, sinceramente, quando o assunto é coração eu digo: já fui magoada diversas vezes. Desde os 20 anos não namoro ninguém. A vida é engraçada, quando mais jovem namorei bastante e até amei, mas no final meu coração sempre saía quebrado e eu fui aprendendo a me guardar. Eu sei, sou muito nova, mas é que eu tive uma minicoleção de namorados e as experiências se acumularam até beirar o cansaço.
Minhas amigas não entendem como eu, namoradeira que fui, tornei-me uma pessoa tão fria. Eu, euzinha, que sonhava bastante, hoje me orgulho de ter virado pedra. Essa questão amorosa é um tanto estranha: ao mesmo tempo em que eu quero aproveitar, não gosto de encontros casuais. É difícil viver com esse paradoxo, na dúvida, costumo ficar sozinha.
Sinto que tenho uma postura estoica quanto ao amor. Eu não o rejeito, o que eu rejeito são encontros que só servem para tirar a minha paz. Sim, a minha tão amada paz. Depois de passar anos namorando eu já não sabia mais o que era ser eu mesma. Meu último namoro foi tóxico e também foi a gota d’água. A partir disso que eu decidi me reconstruir, virar todas as páginas e me procurar. Eu estava disposta a mudar.
O primeiro ano solteira foi o mais difícil, já que eu ainda pensava muito em relacionamentos. Entenda, eu sou libriana. LI-BRI-A-NA. Esse signo chato que adora um relacionamento. Já viu uma libriana ficar sozinha? Eu via sempre que olhava no espelho. No fundo estava cansada de me dar tanto para assistir ao naufrágio de sucessivas relações. Era simples para alguém virar as costas pra mim. Ah... isso ia mudar. E mudou.
Aqui estou eu, uma nova Júlia. Como eu disse, sou a mulher que sempre sonhei ser: solteira (sempre me imaginei assim), tenho meu próprio apartamento, pago as minhas contas, dirijo meu carro, tomo meu pileque (mentira, eu não bebo), dispenso muitos homens (poderosa) e viajo para onde quero. Eis a minha vidinha tão sonhada. Sabe o que acontece? Mesmo com todo esse discurso eu gosto de imaginar um amor. Talvez um dia um rapaz bacana apareça.
Quando tinha 14 anos, li um livro lindíssimo: A Ladeira da Saudade. Desde então eu sonho em ir para Minas Gerais. Será que já vivi lá em outras vidas? Quem sabe? Tudo o que eu queria é andar por aquelas ruas históricas e viver alguma coisa mágica como no livro. Nessas horas de devaneio esqueço que sou pedra e volto a ser a menina que passava as noites olhando para o céu e os dias estudando, desejando voar. O momento certo chegou.

Convenci um dos meus melhores amigos a conhecer Ouro Preto comigo. Paulo é historiador, geminiano, solteiro convicto e adora aventuras, além de ter um lado místico que eu também tenho. Temos uma amizade que veio de outras eras, só pode. Organizamo-nos e fomos pra Minas com outros amigos.     




A minha ladeira da saudade - II





Que lugar maravilhoso. A atmosfera, as casas coloniais, as ruas... só de pensar que passei 11 anos da minha vida alimentando esse sonho... Ali eu era a menina de 14 anos que leu a Ladeira da Saudade e estava encantada. As minhas paixões por fotografia, arquitetura e história explodiam. Meu deus, obrigada! Universo, obrigada!
Cada ângulo era motivo para uma foto, a comida era divina e as pessoas incríveis. E os rapazes Mineiros? Que tanto homem lindo. Tudo bem que a minha definição de homem lindo é meio estranha, se tiver nariz grande já acho bonito, quer dizer... Enfim, Minas se apresentava pra mim e eu estava extasiada com a experiência. Epa, que rapaz bonito. Não, calma Júlia, não olha.
À noite a nossa turma gostava de ir para os bares da região. MPB, cachaça, conversas filosóficas, literatura, arte, política e muita gente bacana. Entre tantas conversas um rapaz sentou ao meu lado -logo o rapaz bonito que eu não queria nem olhar:
-Oi Júlia, cê é Paraibana né? Eu tenho família lá na Paraíba também.
-Ah, como você sabe meu nome?
-O Paulo me disse
-Tinha que ser ele,  mas... então.. qual o seu nome?
-Felipe
Felipe... mineiro, 20 e tantos anos, também jornalista, cabelo bagunçado, barba por fazer, jeito meio largado, louco por samba, MPB, fã do Devendra Banhart assim como eu, virginiano, cabelo preto, narigudo, tatuado, brinco na orelha... O que mais eu haveria de querer? Que cara mais lindo! E o perfume dele? Sei lá qual era, mas eu estava hipnotizada.
Sabe aquela pessoa que você costuma idealizar? E sabe quando ela se MATERIALIZA na sua frente? Pois é, aconteceu. E a minha paz? Bem, eu estava em Minas, nunca mais veria essa lindeza que se chama Felipe, então eu acho que dá pra sair da zona de conforto e das minhas indagações internas. Se ele for uma boa pessoa vale o potencial desconforto do meu coração.                                               
Felipe é amigo de uma das pessoas que vieram conosco na viagem. Tem família na Paraíba e tem contato com professores da Universidade Federal daqui. Legal isso, mas tenho que me certificar que não vou mais vê-lo. Dar aquele meu chá de sumiço e garantir que meu coração fique intacto.
Voltando ao bar... A conversa estava boa demais e o samba tocou. Felipe me chamou pra dançar. Ô beleza, sô! Química é uma coisa que se nota pelo olhar. O jeito dele me segurar, os braços ao redor das minhas costas, o perfume, o suor, o barulho ao redor. Parecia que eu vivia uma cena já sonhada, e era bom. Parecia que já nos conhecíamos de tão bem que as coisas fluíam. Eu queria estar ali, mas tinha medo de beijá-lo, tinha medo. Já eram três e meia da manhã e Paulo estava bêbado. Eu tinha que levá-lo de volta ao hostel. Felipe pediu meu telefone, mas eu desconversei e fui embora. Vai ver era um louco, psicopata.
Isso ele não era. No dia seguinte fomos a uma cachoeira. Todo mundo estava animado. Paulo tentava lidar com a ressaca, eu estava grudada na minha máquina tirando fotos e Felipe estava com o olhar em mim. A energia da mata me fazia bem e eu não via a hora de mergulhar nos braços de Oxum. Sou filha de Iansã, Iemanjá e de Oxum. Carrego a energia das águas em mim. Enquanto eu e Paulo estávamos em nosso papo místico, o mineiro se meteu na conversa. Qual é o meu susto ao saber que ele também curte essas coisas. Um ponto a mais pra ele.
De noite teve festa numa república. Meu sonho era entrar numa dessas repúblicas iguais às daquela novela Coração de Estudante. O lugar estava cheio de universitários de vários lugares. Era meio bagunçado e ao mesmo tempo aconchegante. Tinha uma varanda que estava toda iluminada com luzes de natal e a vista era incrível. Era possível ver igrejas, casinhas e mais ao longe as montanhas. Acima de nós um céu maravilhoso que só se vê no interior. Logo lembrei da música de Caetano, Céu de Santo Amaro. Fechei meus olhos e agradeci. Sabia que teria que guardar aquela sensação no peito. Aquilo era único e era mais um sonho se tornando verdade. Até que me veio a coragem de puxar assunto:
-Oi Felipe, gostou de hoje?
-Demais, só estou um pouco cansado, mas, mudando de assunto, achei bonita a sua tatuagem.
-Gostou da minha lua? Essa tatuagem tem um significado bastante forte pra mim. Na verdade, assim como você, estou bem cansada da trilha, mas sabe como é, não quero perder nada.
-Eu te entendo, quando estava na Paraíba eu também não queria perder nada.
-Ei, olha esse céu. Olha essa paisagem.
Conversamos muito. O que mais gosto ao estar perto de alguém é o fato de poder ser quem eu sou. Se for para ter que usar máscara, não vale a pena. Aos poucos fomos nos abrindo e ele me contou sobre sua vida amorosa e familiar. Existia uma sintonia inexplicável entre nós dois e o Felipe me disse que sentiu isso desde que me viu passeando pelas ruas de Ouro Preto, coisa que eu nem imaginava.
Até que paramos de conversar e olhamos para o céu em silêncio. Ele pegou a minha mão e me abraçou. Seu rosto chegava mais perto e o seu perfume entrava em meus poros. Meu coração disparava e a sua boca encostou na minha.... Mágicos minutos. Valeu a espera.

Um beijo era a mistura de tudo: perfume, pegada, suor, gosto e intensidade. Só aí eu dei meu telefone para Felipe. Em dois dias eu iria embora e isso era o que me acalmava, porque no fundo do peito eu sabia que beijos perfeitos às vezes acompanhavam ansiedade e noites mal dormidas. Ali, eu só queria esquecer tudo e aproveitar. Esquecer e aproveitar. O carpe diem em seu significado mais superficial. 




A minha ladeira da saudade - III



No dia seguinte acordei com uma mensagem dele pedindo para que eu o encontrasse. Lá ele me deu uma florzinha e um lembrancinha de Minas. Expliquei a ele que iria embora no dia seguinte, vi uma certa tristeza nos olhos dele, mas não comentei nada. Ele me chamou para conhecer a cidade e me mostrou lugares que os guias não mostram. Foi lindo. Nos beijávamos sempre, sorríamos, compartilhávamos lembranças. Eu sentia sinceridade nele e era isso que me deixava confortável. No final da tarde ele me chamou para conhecer a sua casa. Travei.
-Felipe, eu tenho medo.... Você sabe como eu sou. Você sabe o que significa ir à sua casa. Não te conheço direito, mas...
-Júlia, por favor, me desculpe. Não quero que você se sinta mal. Desculpe, por favor.  Realmente achei que seria interessante, mas não tem problema algum você não querer ir, podemos jantar aqui perto.
-Tudo bem Felipe, eu vou. Mas fique ciente de suas atitudes. Vou avisar aos meus amigos para onde estou indo, não quero me sentir acuada. Quero apenas um lugar onde eu possa descansar com tranquilidade.
Felipe morava numa casinha antiga, de estilo colonial, com mais três amigos. O piso era de madeira e cada quarto tinha uma varandinha. O quarto dele dava para a rua e a vista era linda. Ele preparou nosso jantar e ficamos sentados no chão da sala conversando. Abajur ligado, Elis na vitrola e eu com medo. Felipe estava quieto, me respeitava e nem me beijou. Depois do jantar nos aconchegamos no sofá. Eu expliquei a ele o quanto queria tudo o que estava por vir, mas também disse o tamanho do meu receio. Apesar da vontade de aproveitar, eu continuava a mesma. Mesmo que só tivéssemos uma noite, que fosse mágica.
Os beijos à luz de abajur, os abraços fortes, a vontade crescente de ser só dele. O calor de um corpo masculino, coisa que há tempos eu não sentia e nem fazia questão de sentir. O perfume dele... Na vitrola Elis cantava: E quando sinto que teus braços se cruzaram em minhas costas desaparecem as palavras, outros sons enchem o espaço. Você me abraça, a noite passa. Me deixas louca....
Em mim não havia mais medo, só o corpo dele sobre o meu...
 E aqui estou eu, de volta ao lar. Olho o céu pela janela do meu quarto e me lembro do Felipe. Quatro meses já se passaram. Ele me ligou algumas vezes, mas como manter o calor com a frieza que a distância impõe? O tenho nas redes sociais, mas não o acompanho, faço questão de não ver nada e sigo com meu ritmo de vida. Estudos, trabalho e algum show para relaxar.
Até que um dia, no grupo de pesquisa da Universidade, o professor Solano, também Mineiro, me chamou.
-Júlia, quero que você conheça o meu sobrinho. Ele veio de Minas Gerais e fará parte do nosso grupo de estudos.
Qual o nome dele? Felipe.



Minha teimosia