terça-feira, 13 de março de 2018

Período fértil



Chico fez a música para Bárbara, ele é doido de amor por ela. Fogo na caldeira, mel doce que vem da mulher, a vida brotando e fervendo em paixão. Também estou nua, mas não sou Bárbara. Estou fervendo com as palavras, num período fértil de mim, delirante por crias que rejeitarei adiante, radiante por crer em livros de títulos indefinidos.
Todo processo deriva de dias escuros, noites longas, choros intermináveis, incertezas ensurdecedoras. Isso que me mata é o trabalho a parir, criança que precisa nascer. Em paralelo as palavras tomam-me a mão e não se importam com Roma ou filosofias, elas querem a minha nudez, querem o mundo como ele é.
O centro da cidade sujo, o velho tarado do mercado central, a praia noturna, as amigas de sempre, os passeios felizes, a beleza até na feiura da vida. Não há como conter isso que escorre, se sou da arte, que eu me derrame em palavras. Fogo em meus dedos, nua em período fértil de mim, deixo as palavras escorrerem.

Estou em período fértil de ti
Vem comigo maruja
Marulhos marejam meus olhos
E o que vejo avulta
Preenche minha aldeia
Onde sou já terra alheia
A intuir e entoar
Cantos de receber
E dar