Onde estão as
estrelas e as palavras doces? Estão guardados para quando o dia nascer mais
bonito. Tá tudo na gaveta do coração. Só vou abrir quando acordar mais cedo. Enquanto
isso eu vou costurando a vida: acrescentando palavras, chorando sem vírgulas,
perdendo pontos, vivendo entre parágrafos, estudando sem cores, gritando
rascunhos... Pergunto ao rapaz de onde vem essa tamanha sede por bocas e ele
responde sem poesia, tem coragem de enganar. Ri, vive com sede. Olho a cidade
da política. Destilo amargor. Faço do ônibus a minha viagem, vou
colorindo a cidade... Choro o vácuo, o abandono das palavras. O que vem depois
é rascunho. O que publico é quase lixo. Continuo. Enquanto posso,
escrevo. O problema é que escrevo demais. Escrevo sem pausa. Uso o ponto.
Não tem pausa. Você não respir... Não!....não! não respire. Agora sim!
respire... E fora dos textos eu organizo a vida. Acordo mais cedo e abro as
gavetas da felicidade. E de algum jeito as estrelas voltam, as gavetas do
coração ficam abertas e as palavras, antes errantes, param em algum
lugar. E eu, feliz, aproveito.
