sábado, 10 de março de 2018

Processo I




Onde estão as estrelas e as palavras doces? Estão guardados para quando o dia nascer mais bonito. Tá tudo na gaveta do coração. Só vou abrir quando acordar mais cedo. Enquanto isso eu vou costurando a vida: acrescentando palavras, chorando sem vírgulas, perdendo pontos, vivendo entre parágrafos, estudando sem cores, gritando rascunhos... Pergunto ao rapaz de onde vem essa tamanha sede por bocas e ele responde sem poesia, tem coragem de enganar. Ri, vive com sede. Olho a cidade da política. Destilo amargor.  Faço do ônibus a minha viagem, vou colorindo a cidade... Choro o vácuo, o abandono das palavras. O que vem depois é rascunho. O que publico é quase lixo.  Continuo. Enquanto posso, escrevo.  O problema é que escrevo demais. Escrevo sem pausa. Uso o ponto. Não tem pausa. Você não respir... Não!....não! não respire. Agora sim! respire... E fora dos textos eu organizo a vida. Acordo mais cedo e abro as gavetas da felicidade.  E de algum jeito as estrelas voltam, as gavetas do coração ficam abertas e as palavras, antes errantes,  param em algum lugar. E eu, feliz, aproveito.