Caminham os vapores dançantes em
animadas correntes elétricas. Deixam o hipotálamo gritar de amores, atiçando o
sistema límbico. Dizem para ela: é ele que está aqui, inteiro. Em instantes a
mulher desmancha dentro do tórax e as suas pupilas saltam, como se quisessem o
segundo fracionado e guardado pela eternidade.
Facilmente se reconhecem,
como bons primatas que são. Os dois, um feliz encaixe entre moléculas de odores
e proteínas. Como diferenciá-los dos anuros ou das abelhas? Agarram-se, porque
não precisam mais pensar, misturam-se porque a vida é encaixe e impermanência.
Vivem de
apegos. Visitam os bons cheiros esquecidos: o cheiro do joelho, a roupa bem
lavada, o cabelo depois do banho, a alegria que emana do pescoço. Ignoram os
próprios vapores, mas vivem pelos rastros do parceiro. Farejam os lençóis depois da despedida,
ressoando saudade no travesseiro.
Posso
imaginá-los em abstinência, estremecendo, caso sintam, ao andar na rua,
qualquer partícula de oxigênio adulterada que lembre a causa da embriaguez. Um
ser humano que mora no outro e deixa profundas insígnias na memória alheia. Cheiro-casa,
cheiro-presença, átomos repartidos, vida a plenos pulmões.
Pequenas
estrelas multicolores que andam por rotas e veias, alimentam o vício pela
geografia do corpo, ditam paixões e reverberam em pacífico amor. Que histórias contariam
os perfumes em suas etéreas aventuras? Enquanto isso, eles se amam.
