quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Escalas

 




Tenho
A fome do cupim
A persistência da traça
A resiliência da barata
E a vontade de formiga
Cada ser com a sua grandeza


sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Queimadura no prato



Quero o meu prato sem berro
Sem elo com sangue
Sem a teta desmamada, inflamada
Bicho sem couro
Casaco, pele e dor
Abracei uma galinha
Feliz de quem come capim
Já disse, quero um prato simples
Sem queimadura de onça,
Pedaço de Amazônia
Sofrimento do Pantanal
Chão seco, carvão e ozônio
Peste, pandemia, mar-plástico
Gosto de petróleo
Na barriga da tartaruga
Aquela coisa que me machuca
Aperta do pescoço do albatroz
Tem festa domingo, eles riem
Enquanto o globo terrestre gira
Nos olhos de um animal
A caminho do matadouro
E o plástico no pescoço do albatroz


quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Cristal amanhecido

 



Depois do sono 
Lágrimas que deixaram de correr 
Repousam no canto dos olhos 
Dos gatos, dos cachorros, 
De quem acorda 
Cristais amanhecidos 
Às vezes amolecidos 
Peças do corpo vivo 
Transcrições biológicas de toda espécie


domingo, 11 de outubro de 2020

Homenagem


Obstinação abobada de ser reencarnação
Pontuar o sábado como a rosa da semana
Mastigar o mundo com os olhos verdes e secretos  
Desmascarar as raízes escuras da alma
Renascer como um pedaço de Deus
E debulhar uma oração em cada página


 

domingo, 4 de outubro de 2020

Baião 4 por 10

 



Tá.tá   Tá

Toque Tresillo
Célula sul-americana
Mulher paraibana
Baião do meu signo
Compasso inventado
4 por 10, coração outubrino
Tem nordeste no meu pulso
Pulsa forró no meu ritmo

Tá.tá   Tá


quinta-feira, 1 de outubro de 2020

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Insígnia

 



Sou de Letras porque consumo
Não somente a lógica que me define
De signo a enigma
Materializo o que significo em palavra
O alfabeto, a minha arma
No mundo de máquinas e tergiversações
No limiar da teoria
Incógnita, pragmática e estruturalista
No fundo do texto
Alguma vida
Em que eu possa reinar


segunda-feira, 21 de setembro de 2020

As telhas do castelo

 





De sonho a sonho
Para viver junto
Na asa de um mosquito
Na noia da madrugada
No pé do umbigo


Tremendo na corda do violão
Alguma coisa de letra
Livros espalhados pela casa
As previsões de uma charlatã
Infidelidades, os moveres da cama
Desesperanças dos humores
Fins de certeza

 

A vida no Castelo
Um cachorrinho magrelo
O bebê chorando no berço
As contas estagnando o pescoço
O bom uso da palavra aperreio

 

Sem aliança nem festa
Só o juntar dos panos
A chuva rala pingando da telha
Lagartixa no quintal
Manga que não cai da mangueira

 

Domingo de shopping, filme, Sai de Baixo
Menina do dente torto
Mulher cansada do trabalho
“Painho, me ensina a estacionar o carro”


Painho foi embora
Sobraram filha, mãe
E cachorrinho magrelo
A menina do dente torto
Sonhando no Castelo


Areia sem cal

 



Eu não sou essa rua
E nem metade daquela casa
Nada há de se construir
Se a coisa for concebida assim
Não foi dobrando a esquina 
Que encontrei por acaso
As respostas e as letras luminosas
Que em mim querem aparecer
Noite em que vi o meu espetáculo
Invadindo o cartaz alheio
Sendo areia sem cal
Machucando as promessas do existir
Jogando fora o meu sal


A cor do nome

 


Rútilo, o vinho
Escorrendo
No chão do corpo
Até inundar
O coração turquesa
Muralha desfeita
Pela chuva bordô
De desejo grená
Que veste insolente
Da coisa mais bruta
O tesão fúcsia
No teu olho âmbar


domingo, 2 de agosto de 2020

Desconhecem os algoritmos






Um algoritmo previu
As dores a que se destinam os homens
O menosprezo pela natureza
Esse agora hostil
Que dizem os sábios sobre
A criação da coisa sem célula?
Desmandos do DNA?
Vida em pandemia,
Interrogações da matéria
Resta a solidão em quarentena:
No topo da janela, ao avesso da rua
Brilham ampolas de promessas
Dentro do céu sem lua
Na ponta da lágrima
Há de haver afeto e amparo
Desconhecem os algoritmos
A força do futuro abraço


terça-feira, 16 de junho de 2020

Catarse clandestina





O veneno segue à frente da linha
E o mundo em decantação
Abraço o meu filho
Claustros e fugas, rumores de alquimias
Coletiva solidão
Há fome de tudo no oco de cada coisa
E eu reclusa atrás da porta
Cinzelando palavras brutas
Minha adormecida aflição
Findo o tempo de exílio
Vejo a catarse clandestina
Espalhada pelas ruas
Sonhados devires
Da humana condição

segunda-feira, 15 de junho de 2020

.

Sal da madrugada




Sal da madrugada, degelo da minha água
Rumino constelações no colchão a planar
Suplico etérea
Nada que chegue aos ouvidos
Daquele que me espreita
O futuro que avilta
Não quer me esperar
Madrugar anoitecida
Faz de mim poeira
Um tesouro no travesseiro
Ao avesso de todas as horas
Vinte e seis em outubro
O devir virá

Poesia crua




De todo sol que caminha
Do amanhecer ao meio-dia
Acabou-se a poesia
No meu rouco ladrar
Cravei uma insígnia na válvula do peito
Para dizer ao mundo:
Sou mulher das letras
Quero a alegria de um poema
Coberto de lua
E, à meia noite,
Com os dedos em riste
Escrever sílabas de poesia crua
Envolta em palavras nuas
Uivar

segunda-feira, 8 de junho de 2020

Memorial das sombras



Encostado em um dos pilares que sustentavam o alpendre da casa sertaneja, observava a árida paisagem e o arrebol que anunciava o fim do dia. Estava sozinho, à beira de si mesmo. Seus irmãos moravam em outras casas, espalhados seridó afora. Entre uma colheita e outra, o restante da família foi embora em velhice e mazelas.                                               
O homem dormia cedo e mais cedo ainda acordava. Gostava de abocanhar, numa só mordida, dia e noite. Sonhou com um campo florido, sentiu-se livre. Acordou nas primeiras horas da madrugada e deitou-se numa rede, envolto em azul-marinho, iluminado por um candeeiro, estrelas e metade da lua. Ao longe, o vulto do pai, sempre silencioso, em suas caminhadas noturnas. Adormeceu.                                                                  
Viver era aquilo e não viver também. O que seria depois da partida? Uma cópia de seus ancestrais, silenciosos e sem propósito, rondando cômodos? Teve medo de tornar-se uma assombração ancorada. Veria os seus descendentes e o passar de gerações, assistiria às mudanças na paisagem e ao findar de eras. Não existiria mais casa, e talvez os espíritos que lhe acompanham já não estivessem mais ali. Outros moradores amariam sob sua cama, ou, tudo o que lhe é importante desmancharia em poeira.                                                                      
Não sabia como acharia os campos com que sonhara, não tinha rotas. Acordou de repente, entendeu tudo o que precisava: tinha encontrado a sua botija. Pediu a bênção para a sombra da avó, que rezava. Fez o sinal da cruz observando a antiga imagem de Nossa Senhora na parede descascada. Apagou a vela do oratório e arrumou as mudas de roupa. O mundo estava lilás, à espera da hora de nascer. Justino chegou à porta e viu seu pai fumando num canto do alpendre. Depois de alguns passos, olhou para trás, despediu-se da casa e recebeu um aceno. Continuou caminhando para além do sonho, queria os campos. Precisava viver.   

Cinzel





A ideia é simples
Vou cinzelar o texto
Deixá-lo-ei chique
Entre uma linha e outra
Aplicarei a ideias
Que sem perceber
Roubarei de Clarice


Descobri que a amo



Clarice, descobri que a amo, do tanto que há nela e que há em mim. Não posso sê-la, nem em reencarnação. Comi-a e vomitei, comi outros pedaços até chorar. Há de ser a sua fôrma brilhante o caminho do meu nada. Há a sua narrativa em meus sonhos, como se fosse eu que estivesse falando, ou sua voz reverberando no meu oco.             
Por não sê-la revesti-me do seu riso. Compartilhamos o segredo de ter os olhos verdes e ninguém saber. Afora isso, não consigo capturar a sua narrativa e me despedaço inteira naquilo que não sei inventar ainda.                                                                                                                             
Fora ela a minha feliz desconhecida. De tudo o que imaginei nada soava como dentro dos livros. Esqueci-me da aflição analítica, estive entregue aos seus caprichos e vacilos. Estive com ela por uma semana inteira, todas as noites e madrugadas, até absorver o que tinha sido guardado para mim.                                                                                       
Tornei-me confusa com o tempo, com o reverso dos hábitos, quis roubar-lhe o que  não me cabe inteira. Apaixonei-me lentamente como quem percebe a queda e não consegue frear o impacto. Não posso trapacear com o destino.                                                                                            
Nunca menti tanto como agora, para onde estou indo além dos meus dedos? Que coisas mais me aborrecem, além do fato de que nunca mais serei a mesma? Ela foi a minha epifania, a minha hesitação e o meu dilúvio.                                                                                                           
Ela, que sempre esteve ali, a um passo da estante. Descobri que a amo.

Meu é segredo é ter os olhos verdes


Clarice Lispector - É pra lá que eu vou

O amor é vermelho. O ciúme é verde. Meus olhos são verdes. Mas são verdes tão escuros que na fotografia saem negros. Meu segredo é ter os olhos verdes e ninguém saber.



sexta-feira, 5 de junho de 2020

O que dizem os vapores


Caminham os vapores dançantes em animadas correntes elétricas. Deixam o hipotálamo gritar de amores, atiçando o sistema límbico. Dizem para ela: é ele que está aqui, inteiro. Em instantes a mulher desmancha dentro do tórax e as suas pupilas saltam, como se quisessem o segundo fracionado e guardado pela eternidade.                                               
Facilmente se reconhecem, como bons primatas que são. Os dois, um feliz encaixe entre moléculas de odores e proteínas. Como diferenciá-los dos anuros ou das abelhas? Agarram-se, porque não precisam mais pensar, misturam-se porque a vida é encaixe e impermanência.
Vivem de apegos. Visitam os bons cheiros esquecidos: o cheiro do joelho, a roupa bem lavada, o cabelo depois do banho, a alegria que emana do pescoço. Ignoram os próprios vapores, mas vivem pelos rastros do parceiro.  Farejam os lençóis depois da despedida, ressoando saudade no travesseiro.                                                                                                  
Posso imaginá-los em abstinência, estremecendo, caso sintam, ao andar na rua, qualquer partícula de oxigênio adulterada que lembre a causa da embriaguez. Um ser humano que mora no outro e deixa profundas insígnias na memória alheia. Cheiro-casa, cheiro-presença, átomos repartidos, vida a plenos pulmões.                                                         
            Pequenas estrelas multicolores que andam por rotas e veias, alimentam o vício pela geografia do corpo, ditam paixões e reverberam em pacífico amor. Que histórias contariam os perfumes em suas etéreas aventuras? Enquanto isso, eles se amam.

Graus de erudição




Para onde fosse carregava uma lista de palavras. Catalogava as que considerava bonitas e sonoras, buscava brechas para colocá-las em algum texto, descortinava estruturas em busca de apocalipses literários. Queria arrebatar quem a lesse, mergulhava em dicionários, lia e relia autores consagrados. Precisava construir-se em alguma coisa.                   
Ficava à espera de outras até os quadris doerem.  Sentada, queria ser tocada por Hilda, Nélida, Clarice, Lygia ou Cora. Enquanto as buscava procurava por si mesma, miúda, desconhecida, desimportante, responsiva, volitiva e açulada. Catava os pedaços das outras para fazer uma caricatura leviana de si mesma.                                              
Submetia textos às custas de esperança. Faltava-lhe, segundo diziam, cinzelar ideias. Anotou a palavra cin-ze-lar. Taí, gostei. Havia em sua escrita uma linguagem literária mal trabalhada. Não tinha maturidade ainda para amarrar o nó da narrativa.           
Gostava dos poetas que sabiam trabalhar com a simplicidade. Não precisavam de malabarismos para dizer muito. Argutos, lindos. Invejava aqueles que brincavam com palavras sedutoras, jogavam tudo numa massa frasal e vomitavam genialidade. Andava pelos opostos, filtrava seus graus, queria mostrar erudição, mas soava brega.Tinha em mãos absinto, cosmos, flamejar, iconoclasta, réquiem. Réquiem é lindo! O que fazer com o réquiem? A minha própria missa? O funeral da minh’ alma desgastada? Rebordosas em seus imaginares. Deitada elaborava pepitas que não conseguia extrair dos dedos.                                                                       
Parecia uma musicista em busca de notas. Fazia trocas e lia em voz alta, precisava daquilo que soasse melhor. Das formas verbais fazia brinquedo, tinha sanha de ser emblemática. Não se sabia lacônica, amiúde partejava ideias translúcidas e talvez fizesse poemas dadaístas. A elaboração monolítica era armadilha para alguns. Basta erguer a voz e comprovar os movimentos da língua em um falso árabe.                           
Quantos aforismos eram necessários para conquistar o mundo? Não poderia esquecer-se que palavras bonitas não fazem literatura. Veria sóis furta-cores do alto de uma montanha, aprenderia matemática, faria o necessário para usar todas as palavras do seu catálogo. Ainda que nada fosse amarrado, ainda que permanecesse imatura, ainda que não soubesse manusear o cinzel.                            
 Faria com que os mais rigorosos apreciadores lessem em farsi, fingiria sentidos, como quem forja enigmas. Seria capaz de se esconder em labirintos para não mostrar a verdadeira face. Não queria mostrá-la. Debaixo das cortinas agudas havia uma criança capaz de escrever feliz sobre a aventura de andar de ônibus no centro da cidade.  Isso lhe bastava. Deixem-na.                      

Ana-flor



Em cima da mesa de cabeceira descansava deslumbrante uma flor psicodélica, do tamanho de um hibisco, mas não era um. Era um mágico existir, a confirmação de que nunca conheceremos os detalhes da vida. Há mistérios para toda espécie. A corola da flor parecia revestida de aquarela, tons de turquesa e fúcsia misturavam-se sem violência. Do receptáculo floriam carpelos e estames alaranjados, exatamente como a natureza estabelece.            
Não sem espanto Renata a percebeu. Caso mostrasse para outras pessoas a absurdeza com que a vida lhe presenteara, pensariam ser mais um de seus artesanatos. Era Ana Amélia materializada, linda como sempre. Ana-louca. Amélia-atriz, aquariana. Ana era espontânea, muito viva, provocativa, solar. Ana e Renata eram amigas de longa data, amavam-se no silêncio da distância. A lembrança dela não causava escoriações de saudade.                  
Uma memória chamava outras, como se saíssem dos túneis da mente para celebrar alguma festa. Lembrou-se também de Ana Rita, uma colega de trabalho, tão morna e silenciosa quanto a flor arroxeada e meio murcha que dormia no balcão da cozinha. Sentiu medo da festa de dentro, das flores não. Imaginou que se pensasse em Ana Carolina provavelmente veria uma raflésia, ou algo parecido no sofá. E de fato viu, mas dentro do banheiro.                                                                                                                                    
É como se células vegetais tivessem brotado dos ossos de todas as Anas do mundo e criado raízes pelos corpos até transbordar em coisa viva. Renata sentia como se as flores fossem a natureza sob seus calcanhares, desdenhando dos seus sentidos, em sagrada visita. Um elefante no meio da sala traria mais certezas.                                                                              
Na tentativa de decifrar enigmas, listou quantas Anas conhecia. Tentava lembrar-se das suas raízes escuras, dos seus maus afetos e de suas atitudes de amor e caridade. Percebeu que vivia de epifanias, cultivava certa arrogância, mas nada que minasse o seu caráter. Era contemplativa, sagaz, noturna e às vezes introvertida. De vez em quando rendia bons frutos.                                                                                                              
Ana Renata questionou-se: “Que flor eu seria?” Sentiu calor nas entranhas. Ela que também era Ana.


Maria Vitória



               
    Chico irrompe no quarto como se fosse o dono do mundo, queria marcar território e amedrontar Maria Vitória, que tinha o dobro do seu tamanho. Ela me olhava como quem pedia proteção, já ele me pedia carinho, porque comigo era outro, mas não me enganava.         
    O olhar de Maria traduzia o seu desespero, ela esperava de mim todo o cuidado do mundo, como se eu fosse a criatura que a defenderia dos murros felinos de Chico. Ela estava certa, porque o pequeno rapaz gostava de persegui-la. O siamês já se preparava para o ataque.
    Levantei, dei um grito e em poucos passos Chico entendeu meu recado.  Saiu correndo e voltou à porta. Ficou por ali alguns minutos, como se buscasse um jeito de contornar a situação, até outra gata chamar-lhe a atenção. Sumiu. Maria Vitória me olhava como quem ria, e tirou um cochilo pelo quarto. Acordou, ouviu alguns versos, e quando pedi a sua opinião, miou com delicadeza.

Lola



Lola, Chico Buarque, 1987
 
Sabia
Gosto de você chegar assim
Arrancando páginas dentro de mim
Desde o primeiro dia
Sabia
Me apagando filmes geniais
Rebobinando o século
Meus velhos carnavais
Minha melancolia
Sabia
Que você ia trazer seus instrumentos
E invadir minha cabeça
Onde um dia tocava uma orquestra
Pra companhia dançar
Sabia
Que ia acontecer você, um dia
E claro que já não me valeria nada
Tudo o que eu sabia
Um dia

 

sábado, 23 de maio de 2020

Naninha




Chegou pequeninha
Ao lado do lixo na rua
Baixinho miava
Corpinho minúsculo 
Nana neném, criatura sagrada
Cuidei, e como cuidei
Probiótico para o corpo
Amor para a alma
Quantos anos já passaram
Desde que sonhei com a sua chegada
Dorme ao meu lado, velando por mim
Gatinha, criança felpuda, pequena vida
Tricolorzinha
Pelo seu amor e companheirismo
Eu sou alimentada

terça-feira, 12 de maio de 2020

Desiderato da aldeia




Acordaram cansados os aldeados
Depois de longos desideratos
A (re)invenção do cotidiano
Braços alongados em cabos flutuantes
Todas as utopias cabem em satélites, veias e vias
Perfuram as raízes da minha aldeia
Desenham novos contornos para a humana colmeia
Futurólogos e suas imprevisões
Pós-mundo líquido e imiscível
Desglobalizar-se-á?
Um antivírus para a gordura invisível
O ruído agudo dos estômagos pede proteção
É servido o banquete: suculentos migliaccios, saborosas lúcides e porções de aldir
Pode-se dançar, corpos separados
Um pra lá, outro pra cá: catarses do devir




Pixunga



Dorme como uma boneca em cima da cama
Tem uma pequena lua cheia na barriga
O olho direito me encara e o esquerdo orbita
Longos membros e um rabinho cotó
Ser vivo de pelúcia
Para os de fora: Nina
Para mim, em bom o sonoro tatibitati
Pixunga